Benjamin Steinbruch
Turismo � coisa muito s�ria. Pelo menos l� fora, onde a soma dos neg�cios do setor j� se constitui em uma das maiores atividades econ�micas, com um faturamento superior a US$ 400 bilh�es. A chamada "ind�stria do turismo" engloba setores de hotelaria, transporte de passageiros, de esporte, de lazer, de repouso, de congressos, de exposi��es, de arte, de brindes e suvenires, de cassinos e um vasto elenco de ofertas ligadas, direta ou indiretamente, �s viagens individuais ou de grupos. A moderniza��o e dissemina��o das comunica��es eletr�nicas - � frente a televis�o e a telefonia - e o alargamento (e barateamento) das ofertas de transporte s�o fen�menos que se multiplicam por todos os continentes, ampliando as bases do setor e colocando-o como segmento negocial que mais cresce no mundo. Os n�meros s�o impressionantes. As viagens internacionais devem passar este ano de 630 milh�es de devem chegar a um n�mero de 1 bilh�o em 2010, com um faturamento de US$ 2 trilh�es, colocando-se como maior neg�cio do mundo. A Espanha recebe anualmente mais turistas que a totalidade da popula��o da pen�sula Ib�rica. A cidade de Orlando, com os parques tem�ticos e de lazer encabe�ados pela Disneyworld, j� acolhe mais de 40 milh�es de visitantes anualmente. A Argentina recebe perto de 4,5 milh�es de turistas. E n�o s�o raras as cidades como Nova York, Londres e Paris, que recebem, todos os anos, levas de visitantes que superam em duas a tr�s vezes suas popula��es. E no Brasil? Continuamos engatinhando e celebrando minivit�rias como se fossem grandes conquistas. A Embratur registrou, em 1997, a entrada de 2,9 milh�es de turistas do exterior, um n�mero superior em quase 12% aos dados de 1995. Como � menos glamouroso, pouco aparecem as estat�sticas do nosso turismo dom�stico, que est� crescendo e j� representa a principal base econ�mica de importantes cidades e regi�es do Brasil. A ind�stria do turismo � uma grande produtora de riquezas e aparece, em todo o mundo, como um dos mais importantes segmentos geradores de empregos e postos de trabalho. Para um pa�s como o Brasil, carente de recursos para investimentos produtivos, o turismo tem sua import�ncia ressaltada pela velocidade de matura��o desses investimentos e pela sua rentabilidade. De outro lado merece especial aten��o o fato de os postos de trabalho criados pela ind�stria do turismo serem de baixo custo e de r�pida viabiliza��o. Bastariam essas refer�ncias para que o Brasil encarasse com mais seriedade e urg�ncia os seus planos tur�sticos. Para isso � preciso, em primeiro lugar, que as autoridades, as empresas e os profissionais ligados ao setor se conven�am de que estamos longe de possuir uma "cultura tur�stica", sem a qual os obst�culos podem se tornar intranspon�veis. O brasileiro que vai ao exterior (e j� s�o mais de 1 milh�o por ano s� nas viagens aos EUA) j� entendeu como o turista � tratado l� fora. A cordialidade e a boa acolhida s�o a base do processo e, mesmo onde os sorrisos escasseiam, existe seriedade, respeito ao visitante, consci�ncia da sua import�ncia para os neg�cios locais. � por isso que ningu�m � tratado como intruso. Os visitantes do exterior j� se transformaram em importantes produtores de divisas para nosso pa�s. Al�m dos custos de transporte e hospedagem, que na maioria das vezes s�o pagos l� fora, estimase que o viajante traga, em m�dia US$ 600 para despesas pessoais, para o caso de viagens inferiores a cinco dias. Essa m�dia passa de US$ 1.000 para estadias superiores a uma semana. Apesar das precariedades estat�sticas, j� se pode afirmar que o turismo externo promoveu, no ano passado, ingressos de mais de US$ 2,5 bilh�es na economia brasileira, figurando com enorme destaque na lista dos nossos geradores de divisas. H� muito espa�o para crescer e, para isso, � preciso que se d� alta prioridade ao turismo interno, � movimenta��o dos brasileiros dentro do pa�s. Os pre�os de transporte a�reo e da hospedagem ca�ram substancialmente nos �ltimos meses, na esteira de uma abertura positiva promovida pelas autoridades. Pre�o adequado, servi�os corretos e confi�veis e atra��es indiscut�veis constituem o trip� da atividade tur�stica. Temos essas atra��es nas nossas costas, nas nossas montanhas, nas cidades mais conhecidas, na Amaz�nia, no Pantanal, na mata atl�ntica. Dispomos de ofertas interessantes para o turismo cultural, art�stico e hist�rico e j� somos um mercado expressivo para o ecoturismo e para os congressos e eventos, que estimulam e atraem participantes nacionais e estrangeiros. Mas os nossos hot�is ainda s�o poucos e caros. S�o deficientes as estruturas da maioria dos operadores. Faltam folhetos, temos poucos guias e os "contratos tur�sticos" ainda est�o recheados de frases d�bias e de exig�ncias absurdas que s� se explicam se considerarmos o turista um consumidor pouco confi�vel. O turismo deve ser encarado como atividade estrat�gica. Devemos investir em infra-estrutura tur�stica nas regi�es de maior potencial. Precisamos desregulamentar o setor e varrer para debaixo do tapete uma vasta cole��o de leis e normas obsoletas. � importante realizar um trabalho did�tico, para difundir a "cultura do turismo", apoiada na tese segundo a qual localidade boa para o visitante tem que ser, antes de mais nada, igualmente boa para os seus moradores. Finalmente, � preciso acreditar em promo��o, dentro e fora do pa�s. N�o d� mais para fazer milagres, veiculando an�ncios que estimulam o estrangeiro a visitar o Brasil mediante investimentos anuais t�midos que s�o inferiores, por exemplo, ao que a ag�ncia tur�stica de Barbados investe somente em revistas nos EUA. Benjamin Steinbruch, empres�rio graduado em administra��o de empresas e marketing financeiro pela Funda��o Get�lio Vargas (SP), � presidente dos conselhos de administra��o da Companhia Sider�rgica Nacional, da Metropolitana e da Vale do Rio Doce. |